quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Apesar dos blá blá blás, então é Natal!


Acredito no Natal, deposito em cada enfeite pendurado meu encanto por essa época. Não porque recebemos o 13°, os shoppings ficam lotados, ganhamos mais presentes, e-mails, cartões e blá blá blás. Isso é comércio, não Natal. Gosto porque faz parte das minhas melhores lembranças da infância, já foi palco de alguns desastres na adolescência (os presentes frustrantes de familiares no famoso “amigo oculto”) e hoje, neste mundinho adulto é sempre motivo de inspiração. Tudo em prol do bem, penso...

As iluminações e decorações me deixam anestesiada e, as lojas de enfeites geralmente são denominadas: lojas da Kellen. Adoro cada anjinho, versões de Papai Noel, presentinhos etc. Já participei muito das novenas de Natal, fiz o papel da Virgem Maria e coloquei o Menino Jesus na manjedoura. Mas tem coisas que me irritam. E elas são constantes nessa época, como por exemplo, as infinitas variações que lemos sobre o Natal envolvendo problemas do cotidiano.

Não é somente em dezembro que devemos ser mais generosos, apadrinhar crianças em orfanatos ou fazer doações. O orfanato funciona o ano inteiro, 365 dias, 24 horas dia. Todo sentimentalismo excessivo nas pessoas, as demonstrações públicas de compaixão e caridade deveriam ser verdadeiros, não para a “divulgação” de ações. Ninguém consegue se redimir dos pecados sendo bonzinho uma vez por ano. Mas, mesmo assim, com toda a mediocridade, se eu pudesse escolher uma só época para permanecer o ano todo escolheria o Natal.

É nesse momento que aumentam os apadrinhamentos às crianças abrigadas, mas o desafio é fazer com que elas sejam acolhidas durante todos os meses do ano. Atualmente, em Belo Horizonte existem 70 abrigos e unidades de acolhimentos, com cerca de 400 crianças. Dessas, 120 têm apadrinhamentos permanentes, que significa passar os finais de semana, férias, Natal e aniversário na casa das famílias. Difere da adoção, já que a maioria delas têm pais e estão esperando o momento do retorno à sua família. É um ato de doação, palavra que vem de gratuidade acompanhada pela generosidade. Tão linda, que depende de uma só pessoa para tornar felizes tantas outras.


O Centro de Voluntariado de Apoio ao Menor (Cevam) tem inscrições para o apadrinhamento de crianças para o natal. Quem quiser tirar uma criança de um abrigo de Belo Horizonte para fazer a ceia natalina em casa precisa ter mais de 18 anos, ser, no mínimo, dez anos mais velho que o afilhado e passar por uma entrevista com um psicólogo.O Cevam funciona entre 9h às 18h, e fica na rua Goitacazes, 71, conjunto 1407, na região central da capital. Para mais informações, ligue para (31) 3224-1022.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Agora é a vez DELA!


Sim, a vitória é dela, e o país vai se acostumando em dizer “a presidente”. Agora Dilma Rousseff é também a primeira mulher a assumir o cargo mais alto do país. Conhecida pelo seu estilo durona, brasileiros esperam que demonstre também competência. O currículo é incrementado pelos postos de economista, ex-ministra do governo de Lula, de Minas e Energia e da Casa Civil, e também pela história, já que Dilma é a primeira pessoa presa e torturada pelo regime militar (1964-85) a chegar ao cargo máximo do país e a primeira líder a dar continuidade a oito anos de um governo no atual período democrático.

Nas palavras do colega de profissão, Emiliano José, há um caldo de revolução cultural na eleição dessa mulher. Se ela foi uma candidata inventada pelo PT? Então segue um salve de palmas para quem teve a ideia genial. Na campanha, Dilma destacou as conquistas dos dois mandatos do governo do presidente Lula, que a indicou para concorrer à Presidência. A presidente eleita ressaltou que 28 milhões de pessoas deixaram a situação de miséria ao longo desses quase oito anos, e prometeu trabalhar para erradicar definitivamente a pobreza no país. Seu governo será, em muitos aspectos, uma novidade na história brasileira.

O país deve em breve ser reconhecido como a sétima economia do mundo, caminhando para, em dez anos, chegar ao quinto lugar. O Brasil é hoje uma potência regional com credenciais para se tornar uma das potências globais no futuro. Quanto mais o país cresce, mais aumentam suas responsabilidades perante a comunidade internacional, no âmbito da economia global, da defesa do meio ambiente e até mesmo da estabilidade política mundo afora. Internamente, quanto mais a população tem e teve nesses últimos anos acesso a bens de consumo e educação, mais exigente e consciente dos seus direitos ela se tornou, o que é ótimo e por sinal mostrou que o país mudou nessas eleições.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Mudanças


Mudanças. Nós não gostamos delas, nós a tememos. No entanto, não conseguimos evitá-las. Ou nos adaptamos às mudanças, ou somos deixados para trás. Crescer é doloroso. Qualquer um que te disser que não, está mentindo. Mas aqui vai a verdade: às vezes quanto mais as coisas mudam, mais elas permanecem as mesmas. E às vezes, oh, às vezes mudar é bom. Às vezes mudar é tudo.
Quando dizemos coisas como "as pessoas não mudam" deixamos os cientistas loucos. Porque a mudança é literalmente a unica constante da ciência. Energia e matéria estão sempre mudando, transformando-se, fundindo-se, crescendo e morrendo. O modo como as pessoas tentam não mudar que não é natural.
Como queremos que as coisas voltam em vez de as aceitarmos. Como nos prendemos a velhas memórias em vez de criarmos novas. O modo como insistimos em acreditar apesar de todas as provas contrárias de que algo nessa vida é permanente. A mudança é constante, e como a experimentamos depende de nós. Pode parecer a morte ou uma segunda chance. Se estralarmos os dedos, nos desapegar e seguir em frente... pode ser pura adrenalina. Como se a qualquer momento tivéssemos uma nova chance...como se a qualquer momento pudéssemos nascer de novo.

Trecho de Grey's Anatomy

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Quando precisamos de uma pausa.


Para tudo na vida tem um limite, seja o corpo que pede descanso, o coração o alento e a mente uma reflexão. E quando estamos próximos do limite, precisamos de uma pausa. Assim temos a chance de contabilizar os erros que foram lastimados, os acertos que renderam experiências positivas e, até mesmo as várias possibilidades que podemos ter para um mesmo problema. É uma pausa para aprender.
Ter um tempo para perceber o que está acontecendo, sem assumir o papel de vítima ou de culpado. E principalmente coragem para admitir que tem limitações. O que acontece, no entanto, é que não sabemos esperar e passamos por cima dessa pausa necessária. Somos o reflexo de nossas escolhas, isso é fato. Podemos escolher seguir padrões, um sonho ou viver conforme o que esperam de nós. Em todos os caminhos que surgirem teremos as mesmas margens de erros e acertos. Tudo é inevitavelmente um risco. Mas, viver é surpreender, e nem sempre as melhores coisas da vida são planejadas.
Aquele pedido de casamento inesperado, uma promoção no emprego, passar no vestibular, ganhar o primeiro beijo, ter gêmeos, trigêmeos, morrer aos 100 anos ou se apaixonar pela mesma pessoa todos os dias como se fosse pela primeira vez. As mudanças acontecem para nos dizer:
- Olhe para você, e veja se orgulha do que se tornou.
Não deixe de fazer nada do que gostaria ou já desejou. Sempre podemos mudar a rota. Ninguém é sempre o mesmo. Não sinta que se perdeu no caminho certo por uma escolha da vida. Muito pelo contrário, assuma que saiu um pouco do trajeto, mas que tem a coragem suficiente para voltar para ele.

“Se quer saber...
Nunca é tarde demais para ser quem você quer ser.
Não há limite de tempo, comece quando você quiser.
Você pode mudar ou ficar onde está.
Não há regras para esse tipo de coisa.
Podemos encarar a vida de forma positiva ou negativa.
Espero que encare de forma positiva.
Espero que veja coisas que surpreendam você.
Espero que sinta coisas que nunca sentiu antes.
Espero que conheça pessoas com pontos de vista diferentes.
Espero que tenha uma vida da qual você se orgulhe.
E se descobrir que não tem,
Espero que tenha forças para começar novamente.”

Trecho do filme “O Curioso Caso de Benjamin Button”

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Um cachorro, uma tragédia e uma esperança


Sou apaixonada por cachorros. Pena que sempre morei em apartamento e nunca tive a chance de ter um. Acredito que eles precisam de espaço para suas brincadeiras, e sem um terreno daqueles enormes que costuma ter em casa de avós, não seriam tão felizes quanto gostaria que fossem. Todos os dias me deparo com um poodle, de cor bege, que fica numa casa próxima de onde moro. A casa, abandonada por muitos anos, tem um garagem coberta na entrada onde esse cachorro consegue abrigo. Muito esperto por sinal, ganha pão de vez em quando dos vizinhos, mas tem medo de quem se aproxima. Nunca conseguimos chegar perto.
Se eu tivesse uma casa, levaria ele para morar nela. Lá, ele não teria que ter medo do que poderia vir no dia seguinte. Na semana passada, em meio às notícias do desastre que ocorreu no Morro do Bumba, em Niterói, no Rio de Janeiro, uma me recordou desse poodle que luta para sobreviver. Bombeiros conseguiram resgatar dois cachorros com vida após ficarem três dias embaixo dos escombros. Depois deste resgate, muitos outros animais foram salvos, até um papagaio que gritava sem parar por sua dona. Nick, o primeiro cachorro a ser retirado, emocionou bombeiros e o seu dono, o gerente de RH Bruno Lemos, que ainda esperava encontrar com vida cinco de seus parentes que continuavam soterrados.
Nick reascendeu uma chama de esperança em moradores daquele morro, vítimas do relaxamento moral e jurídico das autoridades. Acontece que ele é um cachorro que não entende de política pública, só sabia que tinha uma casa para morar e uma família para lhe dar carinho. Mas onde ele morava era o Morro do Bumba. Um lixão desativado, cujos restos são até hoje aparentes e deixam no ar um permanente cheiro de podridão. O lugar era inadequado para moradias desde a década de 80, quando foi invadido sem nenhuma objeção do governo. Ao contrário disso, os sucessivos prefeitos fizeram melhorias no local, proporcionando água encanada, ruas asfaltadas e eletricidade, o que só fez atrair moradores.
Décadas de irresponsabilidade conspiraram para que o Morro do Bumba se tornasse uma comunidade construída sobre um terreno altamente suscetível a deslizamentos. Logo ela viria a deslizar morro abaixo. Pessoas inocentes do que estaria por vir foram morar no Bumba. Em contrapartida, relatórios diziam que o local era inapropriado às autoridades. Se for possível acontecer de pessoas acreditarem que moram num lugar seguro mesmo com todos os problemas urbanos que o atinge, é provável que a “favelização” continue até que outros desastres como o do Bumba venham com a próxima estação de chuvas.
Enquanto isso fica a esperança que Nick trouxe para os moradores daquele morro. O que era um momento ruim, ficou amenizado pela presença dessa pequena criatura. Mas desejo que ele não se perpetue à custa da demagogia. Um dia sei que vou adquirir uma casa para o meu poodle de cor bege morar. Mas também defendo a ideia de que tantos outros possam realizar o sonho da casa própria sem que esteja por trás disso o jogo de interesses políticos.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Nada pertencia ao indivíduo, com exceção de alguns centímetros cúbicos dentro do crânio.




John de Mol e Joop van den Ende merecem todo o respeito. Gênios, sábios, ou apenas dois “caras” que sacaram a fórmula para um formato de programa televisivo com uma capacidade estrondosa de repercussão, com certeza terão meus aplausos de pé. Seja aqui, em Portugal, na Holanda, ou até mesmo onde o “Judas perdeu as botas”, por onde é veiculado, o “Big Brother” - programa criado pelos dois - é sucesso de público.
O nome dado ao programa é uma singela ideia do que essa dupla pretendia. Originado do livro “A Revolução do Bichos”, do jornalista e escritor inglês Eric Blair, o termo “Big Brother” foi usado para nomear o controle do Estado sobre a sociedade imaginada pelo autor. O “grande irmão” seria um olho eletrônico a espionar tudo e a todos em sua ficção.
Blair, que ficou mundialmente conhecido como “George Orwell” por criar o “Big Brother” em sua ficção, apresenta uma teoria sobre como um grupo organizado que pode tomar o poder e controlar o Estado sem jamais ser importunado. O segredo de seu plano maquiavélico seria montar um esquema que teria na tirania e no autoritarismo a própria condição de sua existência. Sendo assim, os governantes deveriam exercer o terror, a tortura, a vigilância, como uma pré-condição para a perpetuação do poder. O “grande irmão” para Orwell foi mais além. O governo instalou câmeras em todas as residências para vigiar os cidadãos e poderia também estar presente em todos os lugares, levando sua imagem e sua mensagem. Ele tinha poderes de outro mundo: ouvia tudo (onividência), estava em todos os lugares (onipresença) e podia mudar tudo e todos (onipotência). Tudo isso em prol da dominação da população. E porque não aplicar este plano em um formato de programa televisivo?
Foi a grande sacada de John e Joop. Dourado venceu a 10ª edição do programa brasileiro. Há dez janeiros o Big Brother entra no ar e se transforma na onda vez. Todos os olhares do público estão voltados para a casa Brother da Rede Globo. Em 1948, Orwell escreveu o angustiante livro. Não imaginava ele, que seus pensamentos iriam render um programa de TV. Em sua obra ele descreveu:
“Adormecido ou desperto, trabalhando ou comendo, dentro e fora de casa, no banheiro ou na cama – não havia fuga. Nada pertencia ao indivíduo, com exceção de alguns centímetros cúbicos dentro do crânio”.
Essas palavras pensadas há decadas descrevem sobre os participantes/personagens do programa Big Brother. Coincidência? O que podemos afirmar é que se são “coloridos”, “dourados”, não importa. O que é certo é que sejam assistidos. E que continuemos encantados por esta obra que dá o que falar.

sexta-feira, 12 de março de 2010

“Geraldão”


“Geraldão bebe, fuma muito, vive atacando a geladeira e toma todos os remédios que vê pela frente. No começo, ele usava uma calça sem elástico. Hoje, passa o dia todo peladão”. Essa é a descrição que temos do famoso personagem criado pelo cartunista Glauco Villas Boas, que descobriu no seu talento a paixão pelo desenho e alegrou por mais de 25 anos as páginas da Folha de S. Paulo com suas tirinhas de humor.
Infelizmente, hoje Glauco não trouxe alegria, deixou saudade. Quem teve a chance de conhecê-lo lamenta a perda de um grande artista e um ser humano admirável. Aos leitores, cabe a saudade das histórias do Geraldão, que perto dos 30 anos é solteiro, mora com a mãe - com quem tem uma relação neurótica- e continua virgem até hoje. Quem já leu, deu muitas risadas com a Sônia Braga, não a atriz, mas a boneca inflável do Geraldão, que foi sua primeira paixão. O personagem foi lançado em 1981 no livro independente Minorias do Glauco. Entre outros que trouxeram boas risadas estão:

Casal Neuras
Outra tirinha de sucesso de Glauco é o Casal Neuras. Criado em 1984, o casal é baseado no primeiro casamento do cartunista. Os personagens são "uma mulher que não é mais submissa e por um homem com pose de liberal, mas que morre de ciúmes dela". O site oficial afirma que o casal foi a forma do autor exorcizar o fantasma do machismo.

Dona Marta
Educada à maneira antiga, Dona Marta, ao ver que não arrumaria namorado, "passou para o ataque". Criada em 1981, junto com Geraldão, a personagem não importa quem seja, mas ataca o chefe, o entregador, ou quem estiver passando. O site do cartunista afirma que a personagem é baseada em uma amiga de Glauco que "até hoje, não sabe que virou desenho".

Zé do Apocalipse
O site de Glauco descreve Zé como o "profeta brasileiro", que acredita que o Brasil é "o berço de uma nova raça, a terra do novo milênio" e fica difundindo suas ideias em praça pública. O personagem é baseado em um amigo do cartunista que vive em uma comunidade alternativa.

Doy Jorge
O personagem é inspirado na noite paulistana e uma crítica ao consumo de cocaína: o personagem é um roqueiro malsucedido que usa drogas pesadas. Pelo conteúdo pesado, Doy Jorge estreou nos anos 80 nas revistas de Glauco e depois passou à Folha.


Fica aqui minha simples homenagem ao Glauco. Pois dar vida a traços de lápis não é missão para qualquer um. Tem que ter a pureza de uma criança e o humor de bom vivant.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Indignação e mudanças sobre a tragédia no Haiti


Ontem à noite assisti a reprise do "Hope for Haiti", exibido na última sexta-feira, na MTV. O programa consistia numa maratona de shows beneficentes organizada pelo ator George Clooney em prol das vítimas do Haiti. O programa foi maravilhoso por dois lados: reuniu os artistas de minha preferência como Bono, Beyounce, Sting, Dave Matthews entre outros e disseram já ter arrecadado US$ 57 milhões (cerca de R$ 104 milhões) em doações para ajuda às vítimas do terremoto no Haiti. Assistindo ao programa me recordei do colunista da Veja, Diego Escosteguy, que escreveu sobre Josef, um haitiano que conheceu no aeroporto de Miami a caminho do Haiti.


Joseph
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010 | 15:45 Dos muitos rostos haitianos que levarei comigo, um dos mais comoventes não está aqui. Joseph, ele se chama.

Nossos destinos encontraram-se na quinta-feira da semana passada, quando desembarquei em Miami, buscando uma conexão para Santo Domingo, na República Dominicana. Esperei alguns minutos na fila da Imigração. Na minha vez, Joseph me atendeu. Era um negro alto, corpulento, de olhos pequenos e molhados. Ele estava paralisado, quase catatônico. “Passaporte, por favor”, ele disse, mecanicamente. Apresentei o documento. Como havia saído às pressas do Brasil, levara apenas meu visto americano de turista. Tinha medo de ser barrado - os americanos exigem visto de trabalho, mesmo para conexão.“Onde você vai ficar aqui”, ele perguntou. Expliquei que era jornalista, estava em conexão para Santo Domingo, e que tentaria chegar ao Haiti. Joseph desabou. “Haiti?”, ele disse, surpreso. “Sou haitiano. Minha família toda está lá: mãe, pai, minha irmã. É uma tortura, não consigo falar com eles.” Enquanto a fila atrás de mim crescia, Joseph contava sua trajetória, tão comum entre seus conterrâneos: a busca por uma vida decente fora do Haiti, as saudades da família, da música, do sol. Ele não falava para mim. Contava a própria história a si mesmo, tentando não chorar: “Se eles estiverem mortos, não quero ir. Não quero ir”.

“Sinto muito”, foi tudo o que consegui dizer.

Ele carimbou meu passaporte, sem fazer mais perguntas.


São inúmeras as situações em que dizemos “Sinto Muito”. A grande maioria delas é quando estamos sem palavras e ações. Pelo menos, em meio a tantas coisas que não podemos fazer pelos haitianos, existe uma mudança na postura da imprensa em relação à cobertura da tragédia no Haiti (atuação maior do jornalismo colaborativo). Existe uma mobilização dos ricos em ajudar a reconstruir o país mesmo que intencional (jogo político), e existem inúmeras reflexões sobre o quanto estamos vulneráveis à natureza. Esse post aqui no blog é uma delas.