quarta-feira, 31 de março de 2010

Nada pertencia ao indivíduo, com exceção de alguns centímetros cúbicos dentro do crânio.




John de Mol e Joop van den Ende merecem todo o respeito. Gênios, sábios, ou apenas dois “caras” que sacaram a fórmula para um formato de programa televisivo com uma capacidade estrondosa de repercussão, com certeza terão meus aplausos de pé. Seja aqui, em Portugal, na Holanda, ou até mesmo onde o “Judas perdeu as botas”, por onde é veiculado, o “Big Brother” - programa criado pelos dois - é sucesso de público.
O nome dado ao programa é uma singela ideia do que essa dupla pretendia. Originado do livro “A Revolução do Bichos”, do jornalista e escritor inglês Eric Blair, o termo “Big Brother” foi usado para nomear o controle do Estado sobre a sociedade imaginada pelo autor. O “grande irmão” seria um olho eletrônico a espionar tudo e a todos em sua ficção.
Blair, que ficou mundialmente conhecido como “George Orwell” por criar o “Big Brother” em sua ficção, apresenta uma teoria sobre como um grupo organizado que pode tomar o poder e controlar o Estado sem jamais ser importunado. O segredo de seu plano maquiavélico seria montar um esquema que teria na tirania e no autoritarismo a própria condição de sua existência. Sendo assim, os governantes deveriam exercer o terror, a tortura, a vigilância, como uma pré-condição para a perpetuação do poder. O “grande irmão” para Orwell foi mais além. O governo instalou câmeras em todas as residências para vigiar os cidadãos e poderia também estar presente em todos os lugares, levando sua imagem e sua mensagem. Ele tinha poderes de outro mundo: ouvia tudo (onividência), estava em todos os lugares (onipresença) e podia mudar tudo e todos (onipotência). Tudo isso em prol da dominação da população. E porque não aplicar este plano em um formato de programa televisivo?
Foi a grande sacada de John e Joop. Dourado venceu a 10ª edição do programa brasileiro. Há dez janeiros o Big Brother entra no ar e se transforma na onda vez. Todos os olhares do público estão voltados para a casa Brother da Rede Globo. Em 1948, Orwell escreveu o angustiante livro. Não imaginava ele, que seus pensamentos iriam render um programa de TV. Em sua obra ele descreveu:
“Adormecido ou desperto, trabalhando ou comendo, dentro e fora de casa, no banheiro ou na cama – não havia fuga. Nada pertencia ao indivíduo, com exceção de alguns centímetros cúbicos dentro do crânio”.
Essas palavras pensadas há decadas descrevem sobre os participantes/personagens do programa Big Brother. Coincidência? O que podemos afirmar é que se são “coloridos”, “dourados”, não importa. O que é certo é que sejam assistidos. E que continuemos encantados por esta obra que dá o que falar.

sexta-feira, 12 de março de 2010

“Geraldão”


“Geraldão bebe, fuma muito, vive atacando a geladeira e toma todos os remédios que vê pela frente. No começo, ele usava uma calça sem elástico. Hoje, passa o dia todo peladão”. Essa é a descrição que temos do famoso personagem criado pelo cartunista Glauco Villas Boas, que descobriu no seu talento a paixão pelo desenho e alegrou por mais de 25 anos as páginas da Folha de S. Paulo com suas tirinhas de humor.
Infelizmente, hoje Glauco não trouxe alegria, deixou saudade. Quem teve a chance de conhecê-lo lamenta a perda de um grande artista e um ser humano admirável. Aos leitores, cabe a saudade das histórias do Geraldão, que perto dos 30 anos é solteiro, mora com a mãe - com quem tem uma relação neurótica- e continua virgem até hoje. Quem já leu, deu muitas risadas com a Sônia Braga, não a atriz, mas a boneca inflável do Geraldão, que foi sua primeira paixão. O personagem foi lançado em 1981 no livro independente Minorias do Glauco. Entre outros que trouxeram boas risadas estão:

Casal Neuras
Outra tirinha de sucesso de Glauco é o Casal Neuras. Criado em 1984, o casal é baseado no primeiro casamento do cartunista. Os personagens são "uma mulher que não é mais submissa e por um homem com pose de liberal, mas que morre de ciúmes dela". O site oficial afirma que o casal foi a forma do autor exorcizar o fantasma do machismo.

Dona Marta
Educada à maneira antiga, Dona Marta, ao ver que não arrumaria namorado, "passou para o ataque". Criada em 1981, junto com Geraldão, a personagem não importa quem seja, mas ataca o chefe, o entregador, ou quem estiver passando. O site do cartunista afirma que a personagem é baseada em uma amiga de Glauco que "até hoje, não sabe que virou desenho".

Zé do Apocalipse
O site de Glauco descreve Zé como o "profeta brasileiro", que acredita que o Brasil é "o berço de uma nova raça, a terra do novo milênio" e fica difundindo suas ideias em praça pública. O personagem é baseado em um amigo do cartunista que vive em uma comunidade alternativa.

Doy Jorge
O personagem é inspirado na noite paulistana e uma crítica ao consumo de cocaína: o personagem é um roqueiro malsucedido que usa drogas pesadas. Pelo conteúdo pesado, Doy Jorge estreou nos anos 80 nas revistas de Glauco e depois passou à Folha.


Fica aqui minha simples homenagem ao Glauco. Pois dar vida a traços de lápis não é missão para qualquer um. Tem que ter a pureza de uma criança e o humor de bom vivant.