domingo, 24 de janeiro de 2010

Indignação e mudanças sobre a tragédia no Haiti


Ontem à noite assisti a reprise do "Hope for Haiti", exibido na última sexta-feira, na MTV. O programa consistia numa maratona de shows beneficentes organizada pelo ator George Clooney em prol das vítimas do Haiti. O programa foi maravilhoso por dois lados: reuniu os artistas de minha preferência como Bono, Beyounce, Sting, Dave Matthews entre outros e disseram já ter arrecadado US$ 57 milhões (cerca de R$ 104 milhões) em doações para ajuda às vítimas do terremoto no Haiti. Assistindo ao programa me recordei do colunista da Veja, Diego Escosteguy, que escreveu sobre Josef, um haitiano que conheceu no aeroporto de Miami a caminho do Haiti.


Joseph
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010 | 15:45 Dos muitos rostos haitianos que levarei comigo, um dos mais comoventes não está aqui. Joseph, ele se chama.

Nossos destinos encontraram-se na quinta-feira da semana passada, quando desembarquei em Miami, buscando uma conexão para Santo Domingo, na República Dominicana. Esperei alguns minutos na fila da Imigração. Na minha vez, Joseph me atendeu. Era um negro alto, corpulento, de olhos pequenos e molhados. Ele estava paralisado, quase catatônico. “Passaporte, por favor”, ele disse, mecanicamente. Apresentei o documento. Como havia saído às pressas do Brasil, levara apenas meu visto americano de turista. Tinha medo de ser barrado - os americanos exigem visto de trabalho, mesmo para conexão.“Onde você vai ficar aqui”, ele perguntou. Expliquei que era jornalista, estava em conexão para Santo Domingo, e que tentaria chegar ao Haiti. Joseph desabou. “Haiti?”, ele disse, surpreso. “Sou haitiano. Minha família toda está lá: mãe, pai, minha irmã. É uma tortura, não consigo falar com eles.” Enquanto a fila atrás de mim crescia, Joseph contava sua trajetória, tão comum entre seus conterrâneos: a busca por uma vida decente fora do Haiti, as saudades da família, da música, do sol. Ele não falava para mim. Contava a própria história a si mesmo, tentando não chorar: “Se eles estiverem mortos, não quero ir. Não quero ir”.

“Sinto muito”, foi tudo o que consegui dizer.

Ele carimbou meu passaporte, sem fazer mais perguntas.


São inúmeras as situações em que dizemos “Sinto Muito”. A grande maioria delas é quando estamos sem palavras e ações. Pelo menos, em meio a tantas coisas que não podemos fazer pelos haitianos, existe uma mudança na postura da imprensa em relação à cobertura da tragédia no Haiti (atuação maior do jornalismo colaborativo). Existe uma mobilização dos ricos em ajudar a reconstruir o país mesmo que intencional (jogo político), e existem inúmeras reflexões sobre o quanto estamos vulneráveis à natureza. Esse post aqui no blog é uma delas.

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