domingo, 21 de junho de 2009

DESABAFO DE UMA JORNALISTA

O saudoso Alberto Dines iniciou sua crônica para o Observatório da Imprensa no último dia 19 com o seguinte trecho:

Convém prestar a atenção a estas frases, escritas em bom português há 200 anos. “O indivíduo que abrange o bem geral de uma sociedade vem a ser o membro mais distinto dela. As luzes que espalha tiram das trevas ou da ilusão aqueles que a ignorância precipitou no labirinto da apatia, da inépcia e do engano. Ninguém mais útil do que aquele que se destina a mostrar com evidência os acontecimentos do presente e desenvolver as sombras do futuro. Tal tem sido o trabalho dos redatores das folhas públicas”.

Meu desabafo não poderia começar melhor senão com este pequeno trecho do patrono do jornalismo brasileiro, Hipólito da Costa, do qual Dines relembrou tão bem. Os redatores das folhas públicas citadas acima são os jornalistas, eis que sou uma deles. Agora, indignada, porém, com mais vontade do que nunca de firmar nossa importância.
Demorei em escrever sobre minha contestação, ainda não tinha digerido bem toda história. Nestes quase três anos de academia aprendi muito, sou uma pessoa melhor do que quando entrei. Todas as teorias e práticas foram aproveitadas ao máximo, dei a elas o melhor de mim. E me superei em muitas.
Não deixaria nunca de passar pela academia, nem mesmo se esta decisão do STF tivesse sido em 2006. Entrei com a idéia de um jornalismo romântico, hoje ele se envaideceu.
Completando a frase de Dines sobre os oito ministros do STF que na quarta-feira declararam extinta a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo, é que eles não o reconhecem como profissão específica porque desconhecem este trecho de Hipólito e também sobre o que é ser jornalista.

Para ser jornalista é preciso ter mais que dom, mais do que a intimidade com as palavras, mais até do que a arte de cortar palavras como dizia Drummond. Ser jornalista é saber socializar debates, é ter uma formação humanística associada a técnicas de produção de informação. Ambas entrelaçadas com a ética, que quando não caminham juntas se resultam na sua deslegitimação, em supostos dossiês pagos pelas hierarquias, em um campo de visibilidade e disputa no qual quem sai prejudicada é a sociedade. Porque o jornalismo diz muito de um povo, ele trata de assuntos de interesse de um povo. E por isso ele acaba influindo no sentido da história, ele ajuda a construir e ou destruir a história.
As pessoas depositam no jornalista a confiança de que ele irá repassar a informação correta da melhor forma possível sobre um fato do qual não presenciaram ou não souberam interpretar. Eis que está no exercício de sua profissão uma grande responsabilidade que não pode ser exercida por qualquer pessoa: a produção do conhecimento. Por isso acredito que seu exercício deve ser legitimado, porque fazendo uma analogia sobre a infeliz comparação do ministro Gilmar Mendes sobre jornalistas com o cozinheiro, é que matamos a fome também, só que com informação. E para que ela seja bem passada mesmo que crua, é preciso mais do que técnica e feeling. Na cozinha ou na redação o importante é pensar em quem irá degustar seu trabalho e as conseqüências que ele irá acarretar. Há que ter o cuidado de se abeberar nas fontes mais frescas, estudar, investigar e acrescentar algo novo. E todo conhecimento cultural é temperado pela academia, que dá umas pitadas de bibliografias e atividades que dificilmente poderiam ser extraídas sem passar por ela.

Enfim, deixo aqui minha indignação. Mas agradeço aos meus colegas de faculdade e professores por continuarem contribuindo para que eu seja uma jornalista melhor, melhor do que muitos que não irão passar por eles! Tenho a certeza de que vamos mostrar nosso diferencial!

Nenhum comentário: