quarta-feira, 29 de julho de 2009

EXPERIÊNCIA NÃO É O QUE ACONTECE COM UM HOMEM...É O QUE UM HOMEM FAZ COM O QUE LHE ACONTECE.


O crachá e os cartões foram devolvidos. Mas de lá levei toda lembrança de momentos que foram cruciais em minha vida. Não deixaria de ter vivido cada um deles, mesmo naqueles em que apenas assisti, inerte, sem ação. Você ser levado para um hospital é uma coisa, ser a pessoa que vai te receber é outra. São visões diferentes. São experiências intransponíveis. Ouvi relatos inesquecíveis, situações que exigem reflexões. Mas uma se destacou, esta sim, me mostrou o que realmente é determinação. Que para se ter não é preciso coragem, é vontade. Desejo de todo coração. Marcelo me surpreendeu. Era seu aniversário, o pessoal da fisioterapia enfeitou a sala com balões, tinha bolo de chocolate. E ele não chegava, voltei para minha sala. Tinha que terminar de redigir uma matéria para o jornal, o dead line era às 15h. O tempo era curto. O telefone tocou e era ele que tinha chegado. Peguei o gravador, a câmera, meu bloquinho de papel e caneta. E fui escrever sobre uma das histórias de vida mais linda que ouvi até hoje. Marcelo nasceu com paralisia cerebral, os médicos já haviam se desenganado sobre sua recuperação. Apenas piscava os olhos, sem nenhum movimento de outras partes do corpo. Mas ele tinha uma mulher guerreira ao seu lado, sua mãe. E ela o levou para o hospital, insistiu. Encontrou uma médica recém-formada que estava com todo pique da profissão de início. E juntas conseguiram que Marcelo movimentasse o corpo. A escola exigiu então que ele andasse, caso contrário não poderia estudar mais. E ele andou, aprendeu com colchões amarrados nas pernas para dar sustentação no corpo. E em cada superação na infância e adolescência, filho e mãe formaram uma dupla de super-heróis, para vencerem cada obstáculo. Depois sua mãe adoeceu, teve câncer, e quem ficou do seu lado, o tempo todo, levando-a para exames, foi seu companheirinho. Com a perda das cordas vocais, ela ganhou um tradutor, que entende cada gesto seu. E juntos venceram mais uma luta. Naquele hospital eu aprendi muito. Dizem que quem trabalha em um tem uma missão de vida, ou para acrescentar ou para modificar. Não sei ainda qual foi a minha, mas sei que o tempo em que permaneci lá, me engrandeceu muito. Valeu a pena.

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